Pistoleiro mostra como matou jornalista
Por Valquíria Ferreira
A Polícia Civil do Maranhão realizou, na tarde e noite de ontem (3), a
reconstituição do assassinato do jornalista Décio Sá, registrado na
noite de 23 de abril, no Bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea, em
São Luís. A reconstituição serviu para dar mais embasamento ao inquérito
que elucidou a morte do jornalista.
Segundo o superintendente de Polícia Civil da Capital, Sebastião Uchoa, a
reconstituição foi realizada para ilustrar a dinâmica do crime e
dirimir eventuais dúvidas com base nos elementos de prova objetiva e
subjetiva carreados aos autos pela comissão de delegados que investiga o
caso.
“Ela poderia ser dispensada, mas a comissão de delegados entendeu que
era necessário acrescentar mais essa prova ao inquérito, para reafirmar a
confissão do acusado e eliminar qualquer dúvida que por ventura venha a
existir no crime elucidado”, observou Uchoa.
Foto: G. Ferreira e Alessandro Silva
Descontraído,Jhonatan de Sousa Silva auxilia policiais e peritos na reconstituição do assassinato do jornalista Décio Sá
A reconstituição começou às 16h, na Avenida Ana Jansen, em frente ao
Sistema Mirante de Comunicação. O acusado Jhonathan de Sousa Silva, 24
anos, esteve presente e contou aos peritos do Instituto de
Criminalística do Maranhão (Icrim) o que fez no dia da morte de Décio
Sá.
O trabalho contou com a presença da delegada Geral, Cristina Menezes; do
promotor Marco Aurélio; dos delegados da Comissão que investiga o crime
(Jefrey Furtado – presidente da comissão, Maimone Barros, Guilherme
Sousa, Roberto Larrat, Roberto Fortes, Augusto Barros - da
Superintendência Estadual de Investigações Criminais), e do coordenador
da comissão de delegados, Marcos Affonso Júnior – subdelegado Geral.
Além de peritos do Instituto de Criminalística (Icrim).
Pela reconstituição, no dia 23 de abril Jhonathan chegou em frente à
Mirante, por volta das 16h20, em uma moto Fan CG, cor vermelha, placa
NNH7680. Ele parou em frente a uma gráfica, no lado oposto à empresa de
comunicação, onde perguntou a um flanelinha se Décio Sá trabalhava na
Mirante, que horas entrava e que horas saía.
Nesse momento o jornalista chegou em seu veículo, um FoxMotion, prata,
placas NNA-7101, e o flanelinha informou que se tratava do jornalista.
Jhonathan, então, disse que não era a pessoa por quem ele procurava,
gravou o modelo, placa do carro e saiu em direção à praia da Ponta da
Areia.
Foto: G. Ferreira e Alessandro Silva
A reconstituição do crime, com a presença de Jhonatan de Sousa Silva, mobilizou forte esquema policial
Em seguida, a equipe de mais de 50 policiais, com apoio de agentes de
Trânsito da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT),
deslocou-se para a praia da Ponta da Areia, onde o acusado contou que
chegou pilotando a moto e se encontrou com ‘Diego’, que estava em um
veículo Corsa Classic, de ‘Neguinho’ – na reconstituição a polícia usou
um veículo Siena, cor Chumbo, placa NHN-0099.
Na segunda parte dos trabalhos, Jhonathan Silva continuava muito frio e
até sorriu quando fez a cena com um policial, simulando estar na
companhia de Diego bebendo água de coco. O executor contou que após
beber a água de coco trocou de veículo com seu comparsa e saíram na
Avenida dos Holandeses, com destino à Chácara de Júnior Bolinha, na Rua 6
(Residencial Verde Mar), no Araçagi, próximo ao Bairro Pirâmide.
Na terceira parte da reconstituição, realizada na chácara de Júnior
Bolinha, a polícia fez apenas a chegada e a saída de Jhonathan com
Diego, pois não tinha autorização para entrar na Chácara. No local, o
acusado deixou o veículo Corsa Classic e saiu depois de algumas horas,
por volta das 21h, para aguardar o jornalista sair do trabalho e cometer
o crime.
Foto: G. Ferreira e Alessandro Silva
Jhonatan Silva chega ao local do crime e mostra passo a passo o esquema utilizado para executar Décio Sá
A dupla chegou por volta das 21h20, próximo à TV Mirante, e aguardou
Décio Sá sair do ambiente de trabalho. No entanto, o piloto ficou
próximo à antiga “Pneu Aço”, e Jhonathan em frente ao comercio “Coco
verde São Francisco”, próximo ao sinal de trânsito da rotatória do São
Francisco.
O acusado contou à perícia que aguardou o jornalista passar no veiculo,
fez o reconhecimento do carro, após constatar que se tratava de sua
vítima, atravessou a pista e subiu na moto, iniciando a perseguição.
Já na Avenida dos Holandeses, no sinal de trânsito do cruzamento com a
Avenida Ana Jansen, ao lado do bar e restaurante Mendonça, Jhonathan
disse que o sinal ficou vermelho e que pretendia executar o jornalista
naquele momento, mas ao avistar uma viatura da Polícia Militar acabou
desistindo.
O suspeito continuou seguindo a vítima e ao chegar à rotatória que dá
acesso à praia de São Marcos, perdeu de vista o jornalista, seguindo
pela Avenida dos Holandeses. Depois resolveu procurar sua vítima na
praia, e encontrou o carro de Décio Sá estacionado em frente ao bar
Estrela do Mar, na Avenida Litorânea. A perita do Icrim, Anne Kelly
Viega, falou à imprensa que Jhonathan tem contribuído muito nesse
trabalho.
Local do crime –
A imprensa não pode acompanhar de perto o trabalho que simulou a
execução do jornalista, tendo acesso a distância. O executor, ao avistar
o veiculo de Décio Sá, desceu da moto e procurou pela vítima,
encontrando-a no interior do bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea.
Jhonathan Silva entrou no bar em companhia da perita Anne Kelly e
demonstrou à equipe do Icrim como cometeu o crime, depois saiu do bar,
atravessou a pista e simulou sentar na moto, para fugir.
“Dentro do Bar, Jhonathan delineou os passos, destacando que atirou
pelas costas da vítima a uma distância de dois metros”, contou o
subdelegado Marcos Affonso Júnior. “Essa reconstituição serve para
formalizar o que temos conhecimento, para materializar o fato”,
completou.
Em seguida os peritos refizeram a cena da fuga, com o acusado subindo
uma duna, antes da barreira eletrônica, e ido a pé até a curva do 90,
quando pegou uma condução para se deslocar a um sítio no Bairro
Miritiua.
O trabalho da Polícia Civil contou com apoio do Batalhão de Missões
Especiais, do Grupo Tático Aéreo (GTA), Batalhão de Choque, Companhia de
Operações Especiais (COE), e do Corpo de Bombeiros.
Curiosos –
A reconstituição na Avenida Litorânea foi presenciada por centenas de
curiosos e imprensa local. “Vim do Turu com um grupo de quatro amigos só
para assistir à reconstituição do crime do jornalista”, contou a
vendedora Meireles Caldas Pinheiro, de 24 anos.
“Estava fazendo minha caminhada e aproveitei para assistir ao trabalho
da polícia”, disse Antônio Mendes, 46 anos. O carro usado para a
reconstituição foi o mesmo usado pelo jornalista e estava sendo
conduzido por um policial civil que representava a vítima.
A moto utilizada no crime foi conduzida por um policial que representou o
piloto de fuga, identificado até hoje apenas como ‘Diego’.